segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

CARTA AOS ESTUDANTES DE FOTOGRAFIA

BLIND WOMAN . NEW YORK . PAUL STRAND . 1917
 
“Somos todos estudantes, alguns são-no por mais tempo que outros mais experimentados. Quando deixarem de ser estudantes, pode ser que deixem de estar vivos no que se refere ao vosso trabalho. Por isso falo de estudante para estudante. Quero dizer-vos, que antes de dedicarem tempo à fotografia (que, por outro lado, vos roubará muito) pensem até que ponto esta é importante para vocês. Se o que realmente perseguem é pintar ou qualquer outra coisa, então não fotografem, salvo por pura diversão. A fotografia não é um atalho para chegar à pintura, para chegar a ser artista ou para qualquer outra coisa . Por outro lado, se a câmara e os seus materiais vos fascinam, motivam a vossa energia e o vosso respeito, aprendam a fotografar. Descubram primeiro o que pode fazer esta câmara sem nenhuma interferência, unicamente com a vossa própria visão. Fotografem uma árvore, uma máquina, uma mesa, qualquer traste velho; fazendo-o uma e outra vez, modificando a luz. Observem o que regista a vossa película, descubram os resultados que se obtêm com os diferentes tipos de papel, as diferenças de cor que se obtêm usando um ou outro revelador e em que forma essas diferenças mudam a expressividade da imagem. O campo é ilimitado, inesgotável, sem sair das fronteiras naturais do vosso meio. Em resumo, trabalhem, experimentem e esqueçam a Arte, o Picturialismo e outras palavras que, em maior ou menor grau, perderam o sentido.
Vejam livros de autor, exposições, ou pelos menos conheçam o que fizeram os fotógrafos, e observem criticamente o que se anda a fazer, em geral, e o que cada um de vocês realiza agora. Houve quem dissesse que Stieglitz tinha força porque hipnotizava os seus modelos. Vão e vejam o que ele fez com as suas nuvens; descubram se os seus poderes hipnóticos se estendiam também aos elementos. Observem todas estas coisas e descubram o que significam para vocês; assimilem o que poderem e esqueçam o resto. Sobretudo vejam as coisas que vos rodeiam, o vosso mundo imediato. Se estão vivos, elas significarão algo, e se se interessam o suficiente por fotografia e sabem como usá-la quererão retratar esse significado.
Se permitirem que a visão de outras pessoas se interponha entre o mundo e a vossa própria visão conseguirão algo banal e sem sentido: uma fotografia picturialista. No entanto, se conservarem uma visão clara criarão algo que, pelo menos, será uma fotografia com vida própria, como uma árvore. Para conseguir isto não existem atalhos, nem formulas, nem regras; unicamente aquelas que regem a vida de cada um. Sem dúvida é necessária uma autocrítica mais rigorosa e um trabalho constante. Mas primeiro aprendam a fotografar. Para mim isto constitui já um problema sem fim.”
Tradução da "carta aos estudantes de fotografia"_ Paul Strand_1923

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